14/3/2017
A prática de exercícios físicos, a despeito de ser recomendada para indivíduos saudáveis e alérgicos, pode representar um fator de risco para o desencadeamento de obstrução brônquica, rinite, sintomas cutâneos e anafilaxia.
O broncoespasmo induzido por exercício (BIE) caracteriza-se pela obstrução transitória das vias aéreas decorrente de exercício físico vigoroso, sendo seus principais sintomas a tosse, dispneia e sibilos. Esta definição recobre-se de importância, pois um expressivo número de indivíduos no mundo moderno desenvolve atividades físicas e esportivas para manter a saúde. Em pacientes com doenças crônicas a atividade física contribui para aumento da capacidade funcional e respiratória, melhora da qualidade e da expectativa de vida.
Em atletas, estima-se que a prevalência do BIE seja mais elevada do que na população geral e depende do tipo de esporte praticado, do nível máximo de esforço desenvolvido e do ambiente desta prática. Bonini et al avaliaram, prospectivamente, 659 atletas de ambos os sexos, com idade entre 16 e 40 anos, da delegação Olímpica Italiana (Sidney 2000, Beijing 2008 e Londres 2012), por meio de questionários e exames clínicos para identificar a presença de asma e outras doenças alérgicas. A prevalência de asma foi de 14,9%, tendo sido observada uma elevação da frequência no período de 2000 e 2008 (11,3% vs. 17,2%). Teixeira et al identificaram BIE em 25% dos atletas de elite brasileiros, corredores de longa distância. Em atletas de natação de alto rendimento, não asmáticos, foi verificada uma prevalência de BIE de 39%. No futebol, em atletas profissionais com diagnóstico de asma e em uso de medicação, a prevalência foi de 51%.
O BIE pode ocorrer virtualmente em atletas de qualquer esporte, entretanto, ocorre com maior frequência naqueles que competem em esportes de resistência (corrida de longas e médias distâncias, hóquei sobre o gelo, natação, futebol, etc), que tem uma demanda ventilatória maior e mais sustentada que nos atletas de explosão.
Assim como a intensidade e duração da atividade física, a qualidade do ar respirado também pode interferir no desencadeamento do BIE. Como se pode deduzir da fisiopatologia descrita acima, a umidade e a temperatura do ar podem influenciar de forma importante o surgimento do BIE. Poluentes ambientais também precisam ser levados em consideração. Atletas de esportes da neve ou do gelo, aqueles que se exercitam em ambientes muito secos ou em ambientes com poluentes particulados ou gasosos, como maratonistas e nadadores em piscinas cloradas e cobertas, são mais susceptíveis ao BIE.
Dependendo do tipo de esporte, até 50% ou mais dos atletas podem apresentar sintomas respiratórios após os exercícios tais como dispneia, tosse, sibilância, aperto no peito ou desconforto respiratório, principalmente aqueles com asma. Entretanto, alguns deles podem não valorizar seus sintomas e achar que são naturalmente decorrentes do esforço físico ou podem também relutar em relatá-los aos treinadores por receio de não serem qualificados como aptos para o esporte.
Dr. Flávio Sano é vice-presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).